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Foto: Reprodução
O empresário Jianing Chen, um dos CEO da Brasil CRT, empresa que apresentou no início do mês o projeto da Nova Mataraca e do Porto de Águas Profundas, no Litoral Norte da Paraíba, afirmou, a reportagem da Folha, nesta segunda-feira (25), que desistiram do negócio.
Chen confirmou que o projeto existe, mas que os supostos investidores internacionais notificaram a Brasil CRT para cancelar o empreendimento e que “vão realizar outro projeto de investimento maior em outro estado do Brasil”.
A decisão foi tomada em meio desconfiança com números estratosféricos que envolvem o projeto, além das suspeitas de que o empreendimento apresentado ao público seriam uma cópia de um projeto de um escritório dinamarquês para um distrito futurista em Shenzhen, no sul da China, conforme apurado com exclusividade pelo Conversa Política e o g1 Paraíba.
Após a revelação do projeto copiado, o consulado da China no Recife, que atende a região, afirmou desconhecer a empresa e ter “motivo para acreditar que é uma fraude”.
Ao Jornal Folha de São Paulo, Jianing Chen afirmou que havia dois vídeos para serem exibidos na cerimônia. “Mas o primeiro foi deixado acidentalmente em um laptop em um hotel, então só pudemos mostrar o segundo vídeo na reunião. Gostamos de algumas das novas ideias de design e estilos deles, e planejamos incorporar esses novos elementos em nosso design real de construção”, disse.
Mais suspeitas
A cerimônia para a assinatura do protocolo de intenções para construção do Porto e da Nova Mataraca aconteceu no último dia 11 de dezembro, com a presença de prefeitos da região, secretários estaduais, representante do governo federal, padre e vereadores.
O empreendimento projetou R$ 9 trilhões em investimentos na região, o volume que chega ao PIB do Brasil no ano passado e é 450 vezes o Orçamento de R$ 20 bilhões, da Paraíba, previsto para 2024. No evento, também se falou da perspectiva de receber R$ 3 milhões de pessoas, numa área em que atualmente reside por mais de 10 mil habitantes.
Para além dos números questionáveis, a Folha destacou também que chamou atenção o fato da empresa, que apresenta capital social de R$ 800 bilhões —quatro vezes o capital social informado no CNPJ da Petrobras, maior empresa do Brasil – não ter site, telefone ou experiência prévia comprovada.
Desdobramentos
Com tudo isso, a promotora de Justiça de Mamanguape, Ellen Veras, resolveu instaurar “procedimento extrajudicial” para investigar o caso, disse o Ministério Público da Paraíba à reportagem.
Em apuração da Folha
De acordo com apuração da Folha, Bianca Bezerra, secretária de Cultura da cidade, afirmou que a região “perdeu de forma bruta e extrema a arrecadação” desde que uma mineradora encerrou as operações no local há três anos. A partir daí, governantes da região tentaram retomar um projeto antigo de construção de um porto.
“Nos últimos dois anos, a prefeitura vem pedindo junto ao governo do estado a oportunidade de abrir as portas para investidores colocarem o porto aqui, para aumentar o emprego e a renda. E então surgiu esse projeto”, conta.
Quem apresentou os chineses aos políticos da região, de acordo a reportagem, foi José Orlando, presidente da consultoria BNBR Brasil.
Em maio de 2021, conta Orlando à Folha, os chineses o procuraram em busca de terras na região para desenvolver um projeto de cidade. Primeiro, conheceu pessoalmente Gianninni Freitas, diretor de relações públicas, e o apresentou aos secretários estaduais Deusdete Queiroga Filho (Infraestrutura e dos Recursos Hídricos) e Gilmar Martins Santiago (Planejamento, Orçamento e Gestão).
Segundo ele, os chineses estavam interessados em 11 mil hectares na região. Eles não chegaram a fechar a compra de nenhuma terra, conta, mas negociaram em regime de permuta as áreas em troca de unidades habitacionais na suposta nova cidade.
Orlando afirma que foi surpreendido pelo valor anunciado de R$ 9 trilhões, porque durante as negociações a empresa falava em R$ 150 bilhões. Além disso, a nova cidade seria para 250 mil habitantes, não para 3 milhões.
Apesar da mudança expressiva, ele não endossa as suspeitas de fraude.
“Uma empresa não vai passar 36 meses buscando oportunidades de negócios, investindo milhares de reais com foco num determinado negócio para jogar tudo pela janela”, diz.
“A CRT Brasil não é administrada por aventureiros, e sim por empresários com expertise e que sabem aonde querem chegar”, afirmou.
A ideia do porto de águas profundas em Mataraca não é nova. Giovanni Giuseppe Marinho, superintendente do Patrimônio da União que esteve na cerimônia no dia 11, conta que há projeto para a criação do porto desde 2009.
Quando a Folha questionou a empresa como atrairia 3 milhões de pessoas para a região, o CEO Jianing Chen pediu que a reportagem “amplie sua visão de mundo”.
Com desenvolvimento de indústria de alta tecnologia, diz, com direito a “pesquisa em fusão nuclear” e “desenvolvimento da indústria aeroespacial”, o “objetivo é que a nova cidade possa acomodar 35 milhões de pessoas” e “crie direta e indiretamente 20 milhões de empregos”.
Questionado de onde a empresa tiraria R$ 9 trilhões, Chen afirmou que, “quando o projeto começar, vocês vão ver quais consórcios de investidores estão envolvidos”, antes de emendar com um provérbio: “Grilos de verão não podem falar sobre o gelo, e sapos de poço não podem falar sobre o mar.”
E quantos funcionários trabalham na Brasil CRT hoje? “Venha ver quantos trabalhadores estarão em nosso canteiro de obras no próximo ano. Certamente isso irá satisfazê-lo”, foi a resposta dos chineses.
Que experiência em construção a empresa tem? “Os consórcios estão envolvidos em milhares de grandes projetos de construção internacionais. Quando você olha para baixo de um voo internacional, muitos dos grandes edifícios podem ter a presença do consórcio.”
Fonte: Jornal da Paraíba