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Foto: Reprodução
Alvo de mais uma operação da Polícia Civil e do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), Bernardo Bello Pimentel Barboza tem uma vida em que mistura bens de luxo, usados para esconder a origem ilícita de sua riqueza, e crimes que vão da contravenção a execuções de inimigos. Na manhã desta quinta-feira, ele é um dos alvos da ação contra seu grupo criminoso, num esquema de empresas que faziam lavagem de dinheiro do contraventor. O bicheiro é investigado em casos de assassinatos, de rivais a desafetos, e, durante a participação na série do GloboPlay “Vale o Escrito”, afirmou que um de seus rivais quer matá-lo. Saiba quem é Bernardo Bello:
‘Negócios’ em família
Bernardo Bello se casou com Tamara Harrouche Garcia, filha de Waldermir Paes Garcia, o Maninho. Com a morte do patriarca da família Garcia, num assassinato em setembro de 2004, os negócios da contravenção do grupo seriam herdados pelo irmão dele, Alcebíades Paes Garcia, o Bid. O então herdeiro foi assassinado em fevereiro de 2020.
Morte de rival
Acusado de ser o mentor intelectual da morte do contraventor Alcebíades Paes Garcia, o Bid, assassinato cometido em 25 de fevereiro de 2020, Bello voltava de Dubai, nos Emirados Árabes, quando foi preso em Bogotá, na Colômbia, durante uma ação da Delegacia de Homicídios da Capital da Polícia Civil e do Gaeco/MPRJ, em janeiro de 2022. Na difusão vermelha da Interpol o nome do bicheiro era classificado como “perigoso” e “violento” ao ser tido, à época, como um fugitivo procurado.
Bello foi solto quatro meses depois após o Superior Tribunal de Justiça (STJ) conceder um habeas corpus para que o bicheiro respondesse ao processo em liberdade. Na época, foi determinado que ele se apresentasse à Justiça de dois em dois meses e ficasse proibido de sair de casa sem autorização ou de se mudar de endereço. O MP, no entanto, acusou Bello de descumprir as medidas cautelares impostas desde o fim de novembro de 2022, quando passou a ser considerado foragido em outro processo respondido por ele.
Na ocasião, ele foi acusado de ser um dos chefes da contravenção no Rio e foi alvo da Operação Fim de Linha, do Ministério Público estadual, que teve como foco a repressão a crimes de corrupção e de lavagem de dinheiro proveniente da exploração de jogos de azar. À época, ele não foi localizado.
Morte de advogado
Agora, o nome do contraventor foi associado à execução do advogado Carlos Daniel Dias. De acordo com as investigações, ele se tornou alvo de Bello por ter orientado um desafeto de Allan Diego Magalhães Aguiar, braço financeiro da organização criminosa do bicheiro e ex-cunhado, a procurar uma delegacia para fazer um registro de ocorrência.
Carlos Daniel foi contratado como advogado por Marcello Magalhães. Ele tinha uma sociedade com Allan, mas os dois brigaram. Allan, ao saber da orientação dada por Carlos Daniel, com o apoio de Bello, mandou matar o ex-sócio.
Luxo e riqueza
Numa denúncia do Gaeco, são mencionados uma lancha, uma moto aquática, duas caminhonetes e cinco imóveis espalhados pelo Estado do Rio — entre sítios, mansões e apartamentos em condomínios de luxo — que teriam sido adquiridos ou vendidos por Bello para lavar dinheiro.
Um dos bens mais valiosos do bicheiro, de acordo com a investigação, é uma mansão num condomínio na Barra da Tijuca, na Zona Oeste da capital. A residência — com piscina, academia particular, campo de futebol society e repleta de obras de arte em seu interior — é avaliada em cerca de R$ 10 milhões. Para se ter uma ideia da suntuosidade do local, só uma dupla de leões de bronze localizada ao lado da porta de entrada foi comprado por Bello por 7 mil dólares num antiquário em Nova York.
O imóvel foi adquirido por Bello numa permuta com Emerson Sheik, em que o ex-jogador ficou com um apartamento. O MP descobriu que Sheik recebeu R$ 473,5 mil do bicheiro em transações que envolveram dinheiro em espécie para concretizar o negócio. Sheik foi denunciado, e responde ao processo em liberdade.
Intimado por telefone
Em março do ano passado, Bello foi intimado, por ligação no celular, para comparecer a uma audiência na 1ª Vara Criminal do Rio sobre o processo da morte de Bid. O oficial de Justiça responsável ligou para bicheiro, que atendeu a chamada e foi informado sobre a sessão. Depois, mandou mensagens pelo WhatsApp, reforçando os dados sobre a audiência. O oficial de Justiça comunicou sobre a intimação no processo e anexou prints das mensagens para Bello, que apenas respondeu “Boa tarde”. Agora, o contraventor é também foragido no processo pelo homicídio qualificado de Bid.
Segundo as investigações da Delegacia de Homicídio da Capital, o homicídio de Bid foi motivado pelas disputas de pontos de contravenção e exploração de máquinas de caça-níqueis na cidade.
Acusação de rival querer matá-lo
O bicheiro Bernardo Bello acusou o contraventor Rogério de Andrade, seu rival, de querer matá-lo. Em entrevista inédita, concedida à série “Vale o escrito — a guerra do jogo do bicho”, Bello disse que Rogério, sobrinho de Castor de Andrade, é o “senhor do crime” no Rio de Janeiro, teria ingerência sobre os integrantes do Escritório do Crime e estaria por trás “de tudo que possa” no estado, referindo-se à longa lista de vítimas que tombaram nos confrontos.
No centro de uma violenta disputa pelo legado de Maninho, que envolve o controle de máquinas de caça-níqueis e pontos de bicho da Zona Sul, Bello disse que resolveu falar após concluir que Rogério estaria usando uma delação premiada, feita por Júlia Lotufo, viúva do ex-capitão do Bope Adriano Magalhães da Nóbrega, para acusá-lo de crimes praticados pelo rival. A colaboração não foi homologada pela Justiça.
Rogério teria decretado guerra a Bello, em raro confronto entre bicheiros de famílias distintas, depois que se aliou a Shanna Garcia pela retomada dos pontos de bicho e de máquinas caça-níqueis dos Garcia na Zona Sul do Rio. Ex-marido de Tamara, Bello teria assumido o controle do território e suspendido o pagamento da participação dos integrantes da família no lucro da jogatina.
Fonte: O Globo