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Número 2 do Hamas já esperava a própria morte: ‘acho que vivi tempo demais’

Foto: Amr Abdallah Dalsh/Reuters

O vice-líder da organização terrorista Hamas, Saleh al-Arouri, há muito tempo esperava o ataque de drone israelense que fontes de segurança afirmam tê-lo matado, no subúrbio de Beirute, no Líbano, na terça-feira (2), três meses após o ataque-surpresa de seu grupo realizou em Israel e deu início à guerra.

“Estou aguardando o martírio e acho que vivi tempo demais”, disse ele em agosto, instando os palestinos na Cisjordânia ocupada por Israel a pegarem em armas em meio a um aumento da violência.

Sua morte ocorre em um momento crucial para a organização, enquanto Israel tenta erradicá-la em retaliação ao ataque de 7 de outubro, quando terroristas do Hamas atravessaram a fronteira, matando 1.200 pessoas e fazendo 240 reféns.

Israel o acusa de ataques letais contra seus cidadãos, mas um oficial do Hamas disse que ele também estava “no centro das negociações” sobre o desfecho da guerra em Gaza e a libertação de reféns conduzidas por Catar e Egito.

“Quem fez isso realizou um ataque cirúrgico contra a liderança do Hamas”, disse Mark Regev, assessor sênior do primeiro-ministro de Israel — o país geralmente não confirma nem nega a responsabilidade por tais ataques.

Embora menos influente que os líderes do Hamas em Gaza, Arouri era visto como um jogador-chave no movimento, planejando suas operações na Cisjordânia a partir do exílio na Síria, Turquia, Catar e, finalmente, no Líbano, após longos períodos em prisões israelenses.

Como principal oficial do grupo no Líbano, desempenhou um grande papel em solidificar as relações do Hamas com o grupo xiita libanês Hezbollah e, por meio dele, com o Irã, principal apoiador de ambos os grupos.

Arouri se encontrou várias vezes com o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, além de autoridades iranianas no Líbano. Fontes do Hamas afirmam que ele trabalhou com eles para coordenar posições sobre o conflito em Gaza.

O Hamas confirmou sua morte, mas não fez outros comentários. A Jihad Islâmica, um grupo aliado, jurou vingança por sua morte em um comunicado na terça-feira, dizendo que isso “não ficará impune”.

Dentro do Hamas, Arouri era descrito como um defensor proeminente da reconciliação entre facções palestinas rivais, mantendo uma boa relação com o Fatah, o partido do presidente palestino Mahmoud Abbas, que tem influência na Cisjordânia.

Hamas e Fatah estão em desacordo há anos, travando uma breve guerra civil em 2007 quando o Hamas assumiu o poder em Gaza, embora as organizações rivais tenham continuado a realizar negociações periódicas.

Mas quando se tratava do conflito com Israel, Arouri era considerado um linha-dura. Ele ajudou a fundar a ala militar do grupo terrorista, as Brigadas Izz el-Deen al-Qassam, e Israel o acusou de orquestrar ataques mortais ao longo dos anos.

Dizem que ele esteve por trás do sequestro e assassinato de três adolescentes israelenses na Cisjordânia em 2014, um ato que desencadeou um ataque israelense de sete semanas em Gaza que matou 2.100 palestinos.

Enquanto a ocupação israelense da Cisjordânia continuava, com assentamentos judaicos se expandindo e a criação de um estado palestino parecendo cada vez mais distante, Arouri afirmou que não havia “outra opção” além de se envolver no que chamou de resistência abrangente.

Ele foi um dos principais funcionários do Hamas por trás da expansão do grupo na Cisjordânia, onde seus combatentes realizaram uma série de ataques contra colonos israelenses nos últimos 18 meses.

Vários tiroteios no ano passado ocorreram logo após Arouri fazer ameaças televisionadas contra Israel.

Com os líderes do Hamas em Gaza, Yahya Sinwar, Mohammed Deif e Marwan Issa, escondidos, Arouri esteve envolvido nas negociações em torno da guerra, afirmando em dezembro que nenhum refém seria liberado até que houvesse um cessar-fogo total.

Como membro do bureau político do Hamas, sob a liderança geral de Ismail Haniya, baseado no Catar, Arouri estava acostumado ao diálogo, mesmo — indiretamente — com seus inimigos amargos, os israelenses.

Em 2011, logo após sua própria libertação da prisão, Arouri foi um dos negociadores do Hamas envolvidos em uma troca de prisioneiros com Israel que o grupo espera replicar após a guerra atual, usando reféns capturados em 7 de outubro.

Nascido perto de Ramallah, na Cisjordânia, em 1966, Arouri foi recrutado precocemente pelo Hamas, ingressando no movimento quando este foi formado em 1987, quando os palestinos iniciaram sua primeira Intifada contra a ocupação israelense.

Ele foi preso em 1992, um ano antes de a liderança do Fatah concordar com os Acordos de Oslo com Israel, aceitando sua existência e abandonando a luta armada em favor de negociar a criação de um estado palestino.

O Hamas rejeitou essa abordagem e, quando Arouri foi libertado em 2007, ele logo retornou à luta. Foi preso novamente até 2010, quando o tribunal superior israelense ordenou sua expulsão.

Ele passou três anos na Síria antes de se mudar para a Turquia até que Israel pressionou Ancara para fazê-lo sair em 2015. Desde então, ele residia no Catar e no Líbano, trabalhando no escritório do Hamas no distrito de Dahiyeh, em Beirute, uma fortaleza do Hezbollah, até o ataque súbito de terça-feira.

 

Fonte: R7

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