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Foto: JOEL SAGET/AFP VIA GETTY IMAGES
Uma das mais respeitadas economistas do mundo quando o assunto é pobreza, a francesa Esther Duflo tem gastado muito do seu tempo falando sobre os ricos.
Seja em palestras em que fala de uma “dívida moral” dos bilionários que poluem mais do que ninguém o planeta ou em reuniões do G20, o grupo das maiores economias do mundo, onde tenta convencer governos sobre a criação de um fundo global para o combate às mudanças climáticas.
Nobel de Economia em 2019, ela quer deixar clara a “dupla crueldade” sobre as alterações no clima do planeta: quem mais polui sofre menos; quem menos polui sofre mais.
Duflo, que foi convidada para ir ao G20 pelo governo do Brasil, esteve no país em junho para explicar a uma plateia formada por estudantes universitários, economistas e autoridades no Sesc 14 Bis, em São Paulo, uma pergunta que a essa altura do texto você já deve estar se perguntando: e de onde viria esse dinheiro?
A economista tem feito campanha por dois caminhos: aumentar o imposto global sobre as maiores empresas multinacionais do mundo (dos atuais 15% para 21%) e uma nova taxa sobre a fortuna das 3 mil pessoas mais ricas.
“Acho que é justo pensar que não é porque um bilionário vive na França que o dinheiro é necessariamente da França para gastar por conta própria. Os produtos deles são vendidos em todo o mundo, são produzidos em todo o mundo. Podemos pensar neste dinheiro como sendo o dinheiro do mundo”, diz em entrevista à BBC News Brasil.
Um dinheiro que, para Duflo, deveria ajudar a reconstruir lugares como o Rio Grande do Sul, devastado pelas enchentes em maio deste ano.
Mas se o assunto climático vem se impondo com a urgência do momento, ainda é seu trabalho sobre a economia dos mais pobres que segue por trás de todo o seu pensamento.
Duflo venceu o Nobel – junto aos economistas Abhijit Banerjeee (seu marido) e Michael Kremer – “por sua abordagem experimental para aliviar a pobreza global, projetando estratégias com o uso uma metodologia semelhante à aplicada em testes clínicos”.
Isso é: ir a pequenas comunidades, selecionar aleatoriamente um grupo para aplicar um projeto de política pública e avaliar depois como foram os resultados.
Se positivos, implementar de uma forma mais ampla. Se negativo, tentar de novo. Essa metodologia, aplicada em países como Índia e Quênia, fez com que Duflo derrubasse alguns “mitos” sobre os mais pobres.
“A primeira coisa que notei quando desembarquei na Índia é que as pessoas mais pobres vivem vidas muito mais normais do que eu esperava”, relembra a economista sobre o início da carreira há mais de 30 anos.
Em seus experimentos, Duflo mostrou que dar um empréstimo para pessoas muito pobres iniciar um novo negócio não leva a uma melhoria drástica em seu bem-estar.
“É claro que não estamos dizendo que não existem empreendedores genuínos entre os pobres — conhecemos muitas pessoas assim. Mas também há muitos deles que dirigem um negócio condenado a permanecer pequeno e não lucrativo”, escreve em seu livro A Economia dos Pobres (Editora Zahar, 2021).
“Talvez os muitos negócios dos pobres sejam menos um testemunho de seu espírito empreendedor do que um sintoma do fracasso dramático das economias em que vivem em oferecer-lhes algo melhor”
Hoje aos 52 anos, Duflo ainda divide seu tempo como codiretora do Abdul Latif Jameel Poverty Action Lab (J-pal), um centro de pesquisa global que trabalha para reduzir a pobreza, professora no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (o MIT) e presidente da Escola de Economia de Paris.
Fonte: BBC News Brasil