O distanciamento político entre o prefeito Álvaro Dias (Republicanos) e o deputado federal Paulinho Freire (União Brasil) chegou ao ápice com as demissões de pessoas indicadas pela vereadora Nina Souza (PDT) de cargos que ocupavam na prefeitura de Natal, a começar do filho dela, o engenheiro Pedro Henrique Araújo de Souza, do cargo de Diretor de Apoio e Mobilidade urbana da STTU, cuja exoneração saiu no “Diário Oficial do Município” desta terça-feira (16).
“O objetivo não é tirar meu cargo, o tiro em mim é mais fácil, mas o alvo é outro”, reagiu a vereadora Nina Souza, depois de argumentar que em quase cinco anos à frente da liderança do prefeito na Câmara Municipal de Natal, contribuiu aprovar matérias de interesse do Poder Executivo.
A avaliação da vereadora Nina Souza, que em março aproveitará a “janela partidária” para se desfiliar do PDT e ingressar no mesmo partido do marido, deve-se às conversas politicas que Paulinho Freire vem mantendo com diversos partidos para oficializar a sua pré-candidatura a prefeito de Natal nas convenções partidárias que ocorrerão entre 20 de julho e 5 de agosto.
“O negócio é atacar Paulinho. E eu sou o pólo mais fraco. Eu vou continuar meu trabalho de forma independente e com responsabilidade, como sempre fiz”, avisou a vereadora, que descarta que o rompimento político com a base da situação a desloque, automaticamente, para a bancada de oposição na Câmara Municipal, embora o primeiro sinal de tensão politica entre o prefeito e o deputado tenha ocorrido em abril de 2023, quando Dias exonerou da prefeitura 19 pessoas ligadas a Paulinho Freire.
“Sou uma pessoa muito responsável, não e à toa que em sete anos do mandato, é um dos que mais produz. Mas vou observar as pautas e verificar o que é melhor para Natal, não vou automaticamente, porque meus cargos foram exonerados para a oposição, vou votar naquilo que for em benefício da população”, disse ela.
Nina Souza acrescentou que votará contra no que for benéfico para a cidade, “assim como fiz com relação ao projeto dos professores, que era maléfico para a categoria, que eu faço parte e que há 30 anos sou professora e não ia votar contra”.
A vereadora referia-se à votação ocorrida dia 26 de dezembro de 2023, que aprovou (22 a 7) a restruturação da carreira do magistério municipal.
Nina Souza disse que “tinha poucas indicações na prefeitura, todas pessoas técnicas, que ao longo desse processo não têm nenhuma falta, não tem nada que desabone a conduta de nenhum”.
Com relação ao filho Pedro Araújo de Souza, a vereadora afirmou que “nunca faltou ao expediente, chegava antes do horário de entrada e saia depois, tanto é que se perguntar a qualquer pessoa da secretaria, vão ratificar o grau de comprometimento que ele tinha, mas isso faz parte”
Quanto a demissão da irmã do prefeito, Andréa Dias Viveiros, de cargo que ocupava na (Federação das Câmaras Municipais do Rio Grande do Norte (Fecam-RN), tida como retaliação política contra atitude tomada contra o deputado Paulinho Freire, ela disse que “não tem nada a ver com isso e não sei quais são os motivos”.
Álvaro Dias nega perseguição à Nina Souza
Em meio as tratativas do deputado federal Paulinho Freire (União Brasil) com outros partidos para viabilizar sua pré-candidatura majoritária às eleições de outubro, o prefeito Álvaro Dias (Republicanos) nega que a sucessão municipal tenha sido o pano de fundo para exoneração de pessoas de cargos indicados pela vereadora Nina Souza (PDT).
“Nina é que saiu da base, não há problema nenhum, os vereadores sabem disso, inclusive na última votação ela se atritou com os vereadores que estavam votando a favor da matéria que a gente enviou. Eles estavam sabendo que ela não estava bem na base”, avisou Dias, que encontra-se em Brasília atrás de recursos para tocar obras em Natal.
Álvaro Dias reportou-se ao fato da vereadora Nina Souza ter votado contra o projeto de reestruturação da carreira do magistério, no fim de dezembro de 2023. “Ela tinha dito a mim que não ia para a sessão, não ia votar. Mas foi para a sessão, votou contra, fez discurso e se atritou com os vereadores da base. Então não pode continuar na base”.
O prefeito disse que os vereadores da base já sabiam que ela ia sair, como foi o caso do presidente da Câmara, Ériko Jácome (MDB): “Como é que ela vai ficar na base de apoio do prefeito, votando contra o prefeito? Onde já viu isso?”
Álvaro Dias reiterou que a questão da escolha de candidatos à sua sucessão “não tem nada a ver uma coisa com outra, o marido dela pode ser pré-candidato a prefeito, a governador, senador, ele é uma coisa, ela é outra”.
O prefeito reforçou que “o problema é que ela não podia ficar na minha base com cargo na prefeitura, votando contra o Prefeito. Todos os vereadores estavam sabendo e concordaram que ela não podia permanecer na base desse jeito”.
Em relação a pré-campanha eleitoral, Álvaro Dias confirmou que continua aberto ao diálogo com outros partidos, inclusive com o União Brasil. “Quando eu voltar vou fazer uma visita ao presidente do partido, senador José Agripino, a gente vai conversar com PL, PDT, PSD, todo mundo no momento oportuno, na hora certa”.
Não desagreguei
Finalmente, a vereadora Nina Souza contesta declarações do chefe do Executivo municipal, de que contribuiu para desagregar sua base política na Câmara. “Esse meu desagregamento é seletivo, eu não desagreguei, eu não desagreguei em quase cinco anos de liderança, onde eu entreguei as pautas mais importantes que o governo precisava para poder fazer o seu trabalho em Natal”, disse ela.
Ex-líder do prefeito na Casa, Nina Souza lembrou que trabalhou, por exemplo, para aprovar o novo Plano Diretor de Natal. “Nós fizemos um trabalho fantástico, um trabalho conjunto, sob a minha liderança, e entregamos esse resultado em três meses com transparência, com ombridade, com a ética, a responsabilidade e a moralidade devida”, disse.
Em seguida, acrescentou: “Quando o governo precisou da reforma tributária, autorização de empréstimo, restruturação do código tributário, de várias outras legislações para destravar a cidade, eu estive presente”.
Ela também declaro que “tudo que foi favorável para Natal, eu estive presente. Sempre fui uma vereadora que sou ponte de articulação da Câmara e respeitada por todos. Não Só pela bancada como pela oposição também e pelos independentes. Então, assim, eu não sei quem é que desagrega, eu não sou, porque graças a Deus sou tida como uma vereadora competente e atuante e que muito faz pela cidade, então isso aí para mim não cola não.
Nina Souza disse que “a única votação que eu não participei, que não votei, não votaria, não votarei jamais, é em matéria contra professor. Essa daí eu de fato votei contra, mas na mesma semana eu votei todas as matérias que o governo tinha enviado, votei, articulei, dei celeridade e fiz o meu trabalho, mas tipo assim, não serve mais, então desagrega, vamos exonerar meus cargos”, completa.
Finalmente, a vereadora exemplificou, ainda, que graças ao seu trabalho “estão acontecendo no San Vale, fui atrás do projeto, eu que destravei o projeto, eu que fui para a Caern para ver a questão do saneamento, eu que corri atrás de deputado, corri atrás do deputado General Girão (PL) para conseguir os recursos, corri agora atrás de vários senadores também, tem várias ruas na Zona Norte pavimentadas graças a mim”.
Então, concluiu ela, “é um mandato que só dos últimos anos para cá, foram mais de 20 milhões que eu fui atrás para ajudar a gestão dele, mas não serve não, agora eu estou desagregando”.